o elevador a partir do minuto 5' até ao 6':19''
the elevator from minute 5' until 6':19''
Thursday, 24 November 2011
Monday, 21 November 2011
118. Nadinha
Vertigem
Sem pensar duas
vezes, naquela bela tarde de verão, conduzi a minha irmã, de visita a Lisboa,
pela estreita passagem que levava directamente ao cimo de elevador de Santa
Justa. Pretendia surpreendê-la com mais uma das abruptas mudanças de
perspectiva que a paisagem da cidade constantemente nos oferece.
Encontrámo-nos as
duas, quase de repente, sobre o rendilhado de ferro que permitia ver à
transparência o abismo que nos separava da rua do Ouro. Será do Ouro? A mim
parecia-me ser... ou outra rua qualquer, lá muito ao fundo.
Subitamente, a
minha irmã agarrou-se a mim num abraço constringente, a gemer e a contorcer-se.
Perguntei-lhe o que tinha, mas ela não conseguia articular bem as palavras,
enquanto, segurando-se com os braços pesadamente nos meus ombros, quase me
arrastava para o chão.
- Que tens tu? Que
se passa?
-Vertigens - acabei
por ouvir a palavra balbuciada, tantas vezes dita por ela e tão temida.
Foi então que
entendi os incompreensíveis e inúmeros relatos que ouvira desde criança, sempre
que ela fazia alguma viagem. Chegada, na sua narração, ao cimo do miradouro, em
vez de se entregar à descrição da esperada bela e exuberante paisagem, explodia
em exclamações como estas:
- Foi horrível!
Aquilo é medonho! Pensei que morria!
A minha irmã, mais
velha sete anos do que eu, sempre me parecera uma mulher muito forte, até àquele
momento das nossas vida e apesar dos inesperados relatos do medo que sentiu perante
as mais belas paisagens que lhe foi dado vislumbrar. Quando eu era mais nova cheguei
mesmo a perguntar-lhe por que razão havia sempre tanta gente fazendo filas para
visitar sítios tão desagradáveis e assustadores, tremendos... Também nunca
compreendi qual era a resposta a esta pergunta.
Arrastei-a com
dificuldade até ao passadiço, pois as suas pernas pareciam feitas de cera mole,
sem que os pés encontrassem a firmeza e a segurança dum chão onde pudessem
fincar-se. Colocava-os de lado no pavimento, num completo descontrole motor. Pálida
como a mesma cera e com os olhos, ora cerrados para não verem a distância, ora voltados
na minha direcção, esgazeados e quase em branco.
Chegámos finalmente
a um chão de terra, tosco, tendo ao lado do caminho uma grande pedra onde
consegui sentá-la. Habituada à situação, no espaço de poucos minutos recuperou
a compostura e a boa disposição, levantou-se muito bem e assim prosseguimos a
nossa deambulação turística, pela cidade que escolhi para viver e que muito
amo.
Quando vi o seu
desafio de oferecermos as nossas recordações, ocorreu-me que o elevador nunca
tinha tido para mim nenhum significado especial. Foi então que me lembrei
disto. E de todo um passado a ouvir, à mesa enquanto jantávamos, nos dias
comuns, incompreensíveis narrações de acontecimentos como este, escutadas por
toda a família com muita atenção, num silêncio perplexo.
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